20 anos de Prémio Literário José Saramago
02.10.2019
 

Foram premiados, ao longo destes 20 anos, dez ilustres autores: Julián Fuks, Bruno Vieira Amaral, Ondjaki, Andréa del Fuego, João Tordo, Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, Adriana Lisboa, José Luís Peixoto e Paulo José Miranda.

Abaixo, um pequeno apontamento sobre as obras anteriormente premiadas.

 

Sobre A Resistência, de Julián Fuks (vencedor de 2017):
«“Aprender a resistir, aprender a perguntar-se” – eis uma das frases emblemáticas que poderia sintetizar bem a escolha do caminho a seguir pelo narrador/contador desta história. Uma história maravilhosa que resiste à facilidade da escrita e do fait-divers e que teima em não abordar o tema deste drama familiar e político de modo fácil ou estereotipado. Escrito com uma linguagem depurada e exímia, este livro fala-nos de exílios, ditaduras, medos, de um país, de uma família, de um irmão. Exemplar no modo como a narrativa se desenvolve e surpreende a cada página, este livro sabe manter-nos suspensos até ao fim numa indistinção entre ficção e realidade, memória e esquecimento, o eu e os outros de nós mesmos.»
Paula Cristina Costa


Sobre As Primeiras Coisas, de Bruno Vieira Amaral (vencedor de 2015):
«As Primeiras Coisas foi escrito (e deve ser lido) sob o signo da ironia e do jogo, pois, desde os inusitados paratextos até à última página, o autor vai desafiando o leitor com inovações formais (imensas notas de rodapé, que contrariam a sua função convencional), conseguindo ainda surpreender com um belo e emocionante epílogo, de carácter elegíaco. Alternando o registo disfórico, dessacralizador, agudamente sociológico, com o registo de cariz consagrador, uma espécie de visão luminosa e transfiguradora do real, este primeiro romance de Bruno Vieira Amaral termina por veicular uma poética narrativa complexa e abrangente.»
Nazaré Gomes dos Santos


Sobre Os Transparentes, de Ondjaki (vencedor de 2013):
«Ao lermos Os Transparentes temos a sensação de estar a ler uma literatura inaugural. Sabemos que não é assim, que Angola tem grandes escritores e que muitos fazem do português em África um idioma sólido, versátil e belo, e que também Ondjaki faz parte de uma poderosa constelação que irá, sem dúvida, iluminar noites e dias. Os Transparentes surge como o primeiro dia da criação, tal é a sua força e lucidez. Este romance, mágico e misterioso, é cruzado por uma aparente ingenuidade, talvez a única maneira de descrever o país que se ama e de contar um certo estado de coisas que não se pode deixar de notar, por causa desse mesmo amor. Os Transparentes é um livro de Angola, sobre esta Angola e a sua forma de estar no mundo. E é, por certo, literatura.»
Pilar del Río


Sobre Os Malaquias, de Andréa del Fuego (vencedora de 2011):
«Em Os Malaquias, a brasileira Andréa del Fuego transfigura numa impressiva obra de ficção a cruel banalidade da existência de três desgraçados irmãos órfãos, nascidos no rude ambiente de uma fazenda da Serra Morena, e que a vida separa desde muito pequenos. A escrita surpreende insuspeitados recursos de estranheza na coloquialidade quotidiana e desenvolve-se num ritmo muito seguro, perturbante e por vezes quase alucinatório. Não sendo propriamente afim dos processos de encadeamento da oralidade praticados por José Saramago nos seus romances, esta atenção à fala, às suas inflexões e às modalidades dos seus registos populares, acaba por redundar numa homenagem importante ao patrono deste prémio.»
Vasco Graça Moura


Sobre As Três Vidas, de João Tordo (vencedor de 2009):
«Desde o início do romance, o autor faz-nos crer que a narrativa se encaminha para o thriller clássico, iludindo-nos com a aparente oferta de uma chave capaz de desvendar o sótão de uma casa enclausurada, que é o seu romance. Para nos provar, no curso da sua narrativa, que se trata de uma profunda reflexão sobre o mistério do bem e do mal instalado no fulcro ardiloso dos costumes humanos, nos compartimentos indevassáveis daquilo que somos.»
Nélida Piñon


Sobre O Remorso de Baltazar Serapião, de Valter Hugo Mãe (vencedor de 2007):
«Há neste livro de Valter Hugo Mãe um jogo entre o belo e o feio baseado numa subtil e elaborada apreensão da História e dos seus momentos. Sobre um lugar antigo, pobre e duro desce uma linguagem a um tempo intrigante e engenhosa de forma a devolver a saga dos despossuídos, da linhagem dos "sarga", pobres, frágeis e sós.»
Ana Paula Tavares


Sobre Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares (vencedor de 2005):
«Cidade sagrada e fonte de inspiração para judeus, cristãos e muçulmanos, Jerusalém é menos um lugar e mais um conceito para designar a presença divina, a crença numa salvação espiritual e numa esperança de harmonia, unidade e realização humanas. E o contraste irónico torna-se evidente, pois se são esses os conteúdos associados a Jerusalém, não são esses os indicadores que encontramos no romance Jerusalém. O distanciamento daqui resultante é revelador de um cepticismo que, associado a um profundo sentido trágico da existência, marca globalmente um romance extremamente controlado, cerebral, quase cirúrgico na identificação e conhecimento das chagas humanas.»
Manuel Frias Martins


Sobre Sinfonia em Branco, de Adriana Lisboa (vencedora de 2003):
«Sinfonia em Branco de Adriana Lisboa tenta um regresso ao romance clássico. Chega-nos assim do Rio de Janeiro uma proposta que recusa, de uma só vez, o barroco tropical, a estética da violência, a exaltação da linguagem pop, e ensaia um discreto e sereno caminho que, de tão esquecido, nos parece agora quase inédito. O estilo é elegante, sóbrio, delicado. O enredo, inteligente, cativa o leitor sem jamais erguer a voz nem o ludibriar – este não é um livro, pois, que arraste o leitor: o leitor é gentilmente convidado a seguir em frente. Não é um livro que se devore: é um livro para saborear.»
José Eduardo Agualusa


Sobre Nenhum Olhar, de José Luís Peixoto (vencedor de 2001):
«José Luís Peixoto consegue construir com Nenhum Olhar aquilo que é mais difícil para qualquer criador: um universo próprio. Uma galeria de personagens atormentados, é certo, vencidos pela vida, e no entanto capazes, como a certo ponto escreve o autor, de roubarem morte à morte. Livro luminoso, e ao mesmo tempo tristíssimo – ou seja, absolutamente português.»
José Eduardo Agualusa


Sobre Natureza Morta, de Paulo José Miranda (vencedor de 1999):
«Olhar triste e melancólico de João Domingos Bomtempo, por "este peso enorme de ser homem, esta tristeza de não poder ser somente música", confunde-se com o esforço de Paulo José Miranda por tornar sensível a pulsação da cultura portuguesa, de que se nutre e a que presta homenagem.»
Pilar del Río


A Fundação Círculo de Leitores tem o prazer de relembrar que a cerimónia de entrega do Prémio Literário José Saramago 2019 terá lugar na Fundação José Saramago, situada na Casa dos Bicos, no dia 8 de outubro, às 11h30.

A cerimónia é pública e nela será divulgado o nome do vencedor desta 11.ª edição.